Texto originalmente publicado nas p. 141-143, do E-book: ESCRITAS DE PROFESSORAS E PROFESSORES EM FORMAÇÃO: MOVIMENTOS CONSTRUTIVOS DA DOCÊNCIA, organizado pela Professora Helena Amaral da Fontoura. Livro 8. Niterói: Editora Intertexto, 2022.
PROFISSÃO: PROFESSOR
por Patrícia Miranda Medeiros Sardinha
A profissão docente é nobre e fundamental para a sociedade. Ela está ligada a todas as demais profissões. Com certeza, você, leitor, já teve contato com vários professores e conhece o ambiente de trabalho, a rotina e deve ter memórias marcantes com, pelo menos, um profissional da área de educação.
Essa é uma profissão que exige muito, o trabalho começa antes da entrada em sala de aula, com a seleção de conteúdos, preparação de atividades e não termina com a saída da escola, por conta da correção dos exercícios e do preparo de avaliações. Sem falar dos cursos de atualização e aprimoramento, pois, sempre há algo novo a aprender. A formação continuada é um imperativo para que os docentes possam acompanhar as constantes mudanças, seja no campo das metodologias, da didática, das novas tecnologias voltadas para o ensino ou mesmo do conteúdo a ser compartilhado com os alunos.
Sou professora há 24 anos. Já lecionei em várias modalidades: Ensino Infantil, Ensino Fundamental I e II, Ensino Médio e Educação de Jovens e Adultos. Sempre trabalhei com alunos advindos das classes menos favorecidas. Iniciei minha jornada de trabalho em colégios particulares e depois fui para a rede pública de ensino onde atuo até o momento.
Uma coisa eu aprendi nesses anos de docência: o conteúdo é importante, porém é primordial prezar pelo relacionamento interpessoal. Eu explico: depois de formado, o aluno se lembra com carinho do professor que o tratou com dignidade, com respeito e com afeto. Talvez ele não se recorde do conteúdo em específico que foi trabalhado, mas se lembrará do professor que o deu atenção, que estava bem humorado, que se importou com o seu problema pessoal, que ao ensinar o fazia refletir, o estimulava a ir mais longe, a ir além do mero diploma, que o incentivava a ser um agente de transformação para melhoria da situação social em que se encontrava, e também, para transpor as barreiras dos preconceitos, do bullying, das injustiças e das desigualdades sociais.
“Fazer isso tudo para ganhar tão pouco?”
Sim. Ganhamos mal. Chega a me dar um nó na garganta. Quando comparada a outras profissões que precisam de muito menos dedicação de tempo e de estudo, ganhamos muitíssimo mal. A desvalorização salarial traz inúmeros ônus à profissão: jornada ampliada de trabalho para melhoria de renda (em 2, 3 até 4 escolas), por conseguinte, falta de tempo e dinheiro para leituras e visitas a espaços culturais (cinema, teatros, museus). Fato é que a docência não é mais almejada enquanto escolha profissional da grande maioria dos jovens e adultos. Nossa rotina é estressante porque lidamos com gente. O ser humano é complexo por natureza, são inúmeras as demandas sociais, emocionais e físicas com as quais temos que lidar. Pegamos turmas numerosas, alunos indisciplinados, deficiência de recursos, etc. Porém, com aquilo que temos procuramos fazer o melhor.
Com o passar do tempo, os alunos se formam, vão para o nível superior, ou fazem cursos técnicos, ou abrem os seus próprios negócios, tornando-se profissionais e trabalhadores nas diversas funções sociais existentes. Fico feliz em ouvir palavras de agradecimento ou um simples “Oi, professora, lembra de mim?” Pois, por trás desse simples cumprimento existe alguém que reconhece o profissional que de alguma forma contribuiu para a sua evolução enquanto cidadão. E ao olhar esses ex-alunos, agora trabalhadores honestos, sinto-me realizada e com o sentimento de dever cumprido.
Com a criação e a naturalização do uso de ferramenta de busca on-line, das redes sociais, do YouTube, e com todas as mudanças relacionadas à atualidade, o professor não é (se é que um dia foi) o detentor do conhecimento. Na verdade, exercemos o papel de mediador, selecionador de conteúdos relevantes, aquele que incentiva a pesquisa e ajuda o aluno a desenvolver um olhar crítico sobre as informações que chegam por meio dos diferentes canais virtuais ou físicos. Diante de enorme quantidade de informações, é como se o aluno estivesse recebendo uma enxurrada de conteúdos a todo momento, mas é o professor que ajuda a canalizar, filtrar e selecionar os temas relevantes, além de indicar caminhos a seguir por meio da pesquisa, sugestionar aplicativos, canais, livros, cursos para que o aluno desenvolva com autonomia o seu projeto de vida.
Esses anos trabalhados me permitiram observar, dentre tantas outras coisas, alguns pontos que gostaria de ressaltar:
1 É fundamental estar com a aula preparada, pois isso passa confiabilidade e segurança para o aluno. Caso a atividade necessite de recursos tecnológicos ou físicos que podem falhar, é necessário ter um plano B para seguir com o tempo de aula;
2 Querendo ou não, de alguma forma, passamos a ser modelo, uma referência para os alunos. Eles observam tudo: vestimenta, linguajar, modo de tratar, postura, etc. É importante levar isso em consideração, pois estamos lidando com cidadãos em formação;
3 Para ser professor é preciso gostar de “gente” e ter consciência que “gente” não é robô que você liga ou desliga. Será necessário lidar com a indisciplina, com insatisfações, reclamações e irresponsabilidades, características comuns de quem está em processo de formação. É fundamental estimular o diálogo e o respeito para resoluções dos conflitos;
4 O exercício de colaboração é primordial. A jornada profissional será facilitada se, no percurso, encontrarmos outros profissionais com os quais podemos “trocar figurinhas”: compartilhar exercícios, dinâmicas e ideias de projetos. Não devemos deixar espaço para competição, precisamos entender que estamos no mesmo barco e precisamos remar juntos. Então, é um desserviço falar mal do colega de trabalho, destacar somente os erros ocorridos ou não se envolver nas propostas de trabalho acordadas. As relações de trabalho precisam ser baseadas na ética, na competência, no diálogo e na troca de ideias/materiais com objetivo comum de oferecer uma educação de qualidade.
Como vimos, existem os ônus, mas também é possível perceber vários bônus nesta profissão. Ser professor nos permite ser agentes de mudança e de auxílio para o crescimento intelectual e para ascensão social dos alunos, além de permitir criar pontes entre as teorias e as práticas, desvelar novos horizontes de oportunidades e incentivar ações de justiça, de honestidade e de respeito ao outro e ao meio-ambiente. Enfim, o trabalho docente envolve, além das atividades pedagógicas, a criação de memórias afetivas nos alunos, assim como, a possibilidade de deixar um legado de inspiração e de transformação de realidades.
Referência:
SARDINHA, Patrícia Miranda Medeiros. Profissão: Professor. In: FONTOURA, Helena Amaral da (organizadora). ESCRITAS DE PROFESSORAS E PROFESSORES EM FORMAÇÃO: MOVIMENTOS CONSTRUTIVOS DA DOCÊNCIA. E-book. Livro 8. Niterói: Intertexto, 2022, p.141-143.
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(por Patrícia Miranda Medeiros Sardinha, em 27 de setembro de 2023)
Parabéns professora Patrícia por este belo e vibrante texto no qual você demonstra toda a sua alegria e satisfação, pela escolha e aplicação profissional.
Que Deus continue abençoando a obra de suas mãos nesta atividade de sacrifícios sim mas, compensatórios.
Parabéns!
Muito Obrigada.
Parabéns, também sinto-me da mesma forma.