*Artigo publicado originalmente no site Rioeduca.net/blogViews, em 14 de abril de 2016.
LETRAMENTO CRÍTICO NAS AULAS DE INGLÊS
por Patricia Miranda Medeiros Sardinha
O termo letramento, do inglês literacy, foi trazido para o Brasil pela autora Mary Kato, em 1986. Soares (2012) deixa claro que letramento não compreende somente a habilidade de ler e escrever, mas vai além disso, ele permite a apropriação da escrita como forma de atuação consciente nas práticas sociais. A autora Kleiman (2008, p.15) afirma que o conceito de letramento “[…] começou a ser usado nos meios acadêmicos como tentativa de separar os estudos sobre o impacto social da escrita dos estudos sobre a alfabetização, cujas conotações destacam as competências individuais no uso e na prática da escrita.”. O Letramento Crítico (doravante LC), segundo Cervetti, Pardales, Damico (2001, p. 12), é definido como uma proposta de leitura que visa à “formação de um mundo mais justo através da crítica aos atuais problemas políticos e sociais e da proposição de soluções”, tal crítica se dá através da leitura, reflexão e questionamento das mensagens dos diferentes textos a que os estudantes são expostos. Com isso, trabalhar o LC nas aulas de inglês possibilita a formação de cidadãos críticos, conscientes e não somente reprodutores de ações e discursos.
Ainda sobre os autores acima citados (2001, p.4), ao lermos um texto dos mais diversos gêneros disponíveis no meio social (charge, anúncio publicitário, letra de canção, artigo jornalístico etc) temos que ter em mente que a informação e conhecimento por ele passados não são neutros, ele é ideológico por expor o ponto de vista de um grupo social em específico ou mesmo o interesse pessoal do autor.
Lopes, Andreotti , Menezes de Souza (2006) salientam que o LC é o desenvolvimento da consciência crítica e de questionamentos das ideias defendidas pelo texto. O leitor, então, precisa levar em consideração algumas questões como, por exemplo:
*Quais as ideias e potenciais implicações das sentenças no texto?
*Como a realidade é definida? Quem define?
*Em nome de quem? Beneficia a quem?
*Quais as limitações e perspectivas?
*Como as sentenças e/ou palavras poderiam ser interpretadas em diferentes contextos?
Dessa maneira, os estudantes-leitores têm a possibilidade de questionar as diversas formas de dominação e perpetuação das desigualdades social e econômica na leitura de um texto.
Para Paulo Freire, um dos precursores do LC, “a leitura da palavra não é apenas precedida pela leitura do mundo, mas por uma certa forma de ‘escrevê-lo’ ou de ‘reescrevê-lo’, quer dizer, de transformá-lo através de nossa prática consciente.” (FREIRE. 1989, p.13). O LC permite que o aluno não somente desenvolva habilidades linguísticas nas aulas de língua inglesa, mas preconiza a formação de cidadãos críticos e conscientes a partir da interação, diálogo com seus pares e questionamentos dos conceitos e preconceitos quase que “institucionalizados” pela sociedade e pela própria família (SOUZA, 2014, p.41).
Como vimos, o objetivo do LC é viabilizar desconstruções de reproduções de falas e atitudes que não passaram por reflexões para um agir mais consciente. Como preconiza Matos & Valério (2010) e Jordão & Fogaça (2012), as aulas de Inglês não só têm o intuito de desenvolver a competência comunicativa do aprendiz, mas também formar o indivíduo cidadão. O aluno, com isso, pode se tornar protagonista de sua própria realidade, questionando-a, interferindo e, se possível, modificando-a.
Referências Bibliográficas:
CERVETTI, G., PARDALES, M. J., & DAMICO, J. S. (2001). A Tale of Differences: Comparing the Traditions, Perspectives, and Educational Goals of Critical Reading and Critical Literacy. Reading Online. Disponível em:< http://www.readingonline.org/articles/art_index.asp?HREF=/articles/cervetti/index.html > Acesso em: 4 de jan. 2016.
FREIRE, Paulo. Educação como Prática da Liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989.
JORDÃO, C. M.; FOGAÇA, F. C. Critical literacy in the English language classroom.In: D.E.L.T.A., 28:1, 2012, p.69-84
KATO, M. A. No mundo da escrita: uma perspectiva psicolinguística. 7.ed. São Paulo: Ática, 2003.
KLEIMAN, Angela B. (Org.). Os significados do letramento: uma nova perspectiva sobre a prática social da escrita. Campinas: Mercado das Letras, 2008.
LOPES,M.C.L.; ANDREOTTI,V.; MENEZES DE SOUZA, L.M.T. Uma breve introdução ao letramento crítico na educação em línguas estrangeiras. Paraná, 2006. p.6. Disponível em:< http://pt.scribd.com/doc/7965991/letramento-critico> Acesso em: 6 de jan. 2016.
SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 2012.
SOUZA, Gasperim Ramalho de. Novos significados para o ensino e aprendizagem de inglês: o letramento crítico em uma turma de aceleração. Dissertação de mestrado. UFMG. Faculdade de Letras. 2014.
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