É preciso ter esperança. Mas tem de ser esperança do verbo esperançar”. Por que isso? Por que tem gente que tem esperança do verbo esperar. Esperança do verbo esperar não é esperança, é espera. “Ah, eu espero que melhore, que funcione, que resolva”. Já esperançar é ir atrás, é se juntar, é não desistir. É ser capaz de recusar aquilo que apodrece a nossa capacidade de integridade e a nossa fé ativa nas obras. Esperança é a capacidade de olhar e reagir àquilo que parece não ter saída. Por isso, é muito diferente de esperar; temos mesmo é de esperançar! (Paulo Freire)
Esse extrato de Paulo Freire sobre ESPERANÇAR foi epígrafe da minha dissertação que defendi em 05 outubro de 2017 sobre os processos formativos de professores de Inglês que trabalham na Educação de Jovens e Adultos: um estudo com os egressos da UERJ-FFP. Eu trabalho na rede estadual de ensino do Rio de Janeiro e fiz questão de colocar essa explicação sobre a esperança no meu texto dissertativo, pois é justamente ela que me move como professora de Inglês da EJA e do Ensino Regular.
O meu estado tem sido sucateado de todos os lados, o povo tem sofrido muito com as desigualdades sociais, com o descaso na saúde, na educação e na segurança. Agora, para piorar a situação, os professores e funcionários da UERJ, da FAETEC e os inativos do Estado do Rio de Janeiro têm sofrido total desrespeito sem o pagamento de 4 salários. Enxergar essas mazelas causadas por quem deveria proteger o povo é, sem dúvidas, repugnante! Mas, não consigo desistir da Educação Básica! Já me perguntaram milhares de vezes, “você sabe Inglês por que continua como professora do Estado? Você poderia estar ganhando mais, muito mais.” A minha resposta continua sendo a mesma, eu gosto do que eu faço, sinto-me útil ensinando uma nova língua e gosto do contato com os alunos. É claro que eu gostaria de receber de forma justa pelo meu trabalho, mas sinto que a realização profissional vai muito além do que conta bancária farta, pra mim educar é poder transformar realidades. Isso é utópico, pode soar piegas, mas é fenomenal, sinto-me totalmente realizada na profissão que escolhi!
Então, nos momentos de agruras (atraso de pagamento, salas de aula insalubres, alunos cansados do trabalho, cobrança desmedida etc.) faço uma oração, peço discernimento, prudência e sabedoria a Deus para continuar espalhando a semente da justiça e do amor. Minha meta de vida tem sido a mesma que a de Laura Vicuña: “Não quero passar com indiferença perto de ninguém”, por isso procuro sensibilizar meus alunos fazendo-os refletir. Antes de passar os conteúdos do currículo, eu sempre inicio minhas aulas fazendo meus alunos refletirem por meio de frases de ícones que fizeram a diferença no mundo, como Martin Luther King Jr., Einstein, Carl Jung, C.S.Lewis, Salomão etc. e ESPERO ( do verbo esperançar) que com minha vida e com as reflexões de 5 minutos, oriundas das frases desses autores, que eu também possa fazer a diferença na vida das centenas de alunos que passam por mim todo ano. Talvez eu não veja os frutos do meu trabalho, mas creio que a minha vida possa ser usada para encorajar e transformar as consciências em possibilidades de mudança dessa nossa ácida realidade. Termino esse depoimento afirmando que vale a pena ESPERANÇAR, alguns podem dizer que é utopia, mas fico com Eduardo Galeano, “a utopia serve para isso: para que eu não deixe de caminhar”. Por isso, sigo em frente confiando que o meu trabalho na EDUCAÇÃO Básica pode transformar a realidade em um jardim de esperança.
(Por Letícia Miranda Medeiros, em dezembro de 2017).
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